sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sobre as cotas e o Negrinho Cocorí

Sou do time que celebra a aprovação da Lei de Cotas que inclui os chamados critérios raciais como um avanço significativo no sentido de minimizar as diferenças entre brancos e negros na sociedade brasileira. Também entendo que estas ações afirmativas por meio de cotas étnico-raciais e cotas sociais são tentativas de democratização de acesso aos jovens menos privilegiados aos corredores dos Institutos Federais de Ensino Superior (IFES).

Não posso deixar de ressaltar que estas conquistas são fruto do esforço de diversas organizações do movimento negro, movimento estudantil, movimentos de mulheres, das representações indígenas, intelectuais, associações de moradores, sindicatos rurais e das cidades, artistas e da parcela progressista do povo brasileiro.

O Projeto de Lei 180/2008, que reza sobre ações e políticas afirmativas nos Institutos Federais de Ensino Superior e que recentemente foi sancionado pela Presidente Dilma Roussef e que se apresenta pela Lei 12.711/2012. Ou seja, as universidades públicas e os institutos federais deverão reservar em cada respectivo concurso seletivo, 50% de suas vagas por curso e turnos para discentes que comprovem terem estudado em bancos escolares de escolas públicas em todo o Ensino Médio. Além disto, estudantes negros, pardos e indígenas também serão comtemplados com uma proporção mínima igual ao número a que esses grupos correspondam no Estado em que a instituição de ensino esteja localizada, seguindo os dados disponíveis pelo último Censo Demográfico do IBGE.  

Infelizmente em diversos posicionamentos contrários e refratários a esta vitória são espalhados pelos meios de comunicação e tentam escamotear a inegável dicotomia racial e a lacuna abissal entre quem detêm o capital e quem vende a sua força de trabalho neste país. 

Para contribuir com esta discussão vou contar uma pequena história, pois faz parte daminha profissão.

Sempre fui um leitor voraz, desde a minha adolescência, por isso encontrei Cocorí em um sebo no centro da cidade de Manaus nas páginas mágicas da obra maior do escritor Joaquín Gutiérrez escrita no ano de 1947. O autor é filho de Puerto Limón e nasceu em 1918.

Cocorí é um negrinho que nos apresenta as paisagens belíssimas da Costa Rica. Este menino vive em um universo mítico que nós brasileiros damos pouca atenção, aliteratura e o folclore dos nossos países vizinhos.

Cocorí sempre faz perguntas filosóficas e profundamente inspiradas no espírito curioso e esperançoso das crianças.Por isto lhes apresento o filho da Mãe Drusila: "Cocorí se agachou para beber na concha das mãos e se deteve espantado ao ver subir lá do fundo um rosto preto como uma jabuticaba, o cabelo parecendo cotões apertados. Os olhos de porcelana de Cocorí tinham à sua frente outro par de olhos que o fitavam assustados. 

Pestanejou, também pestanejaram. Fez uma careta e o negrinho da poça respondeu com outra igual. Deu uma palmada na água e seu retrato se quebrou em mil pedaços. Estava contente e seu riso levantou umas gengivas vermelhas como melancias. Pela primeira vez se tinha atrevido a penetrar entre as árvores milenárias da selva e, cheio de curiosidade e excitação, vivia uma aventura magnífica".

O pequeno Cocorí deve ser absorvido pelos jovens leitores e por aqueles que já perderam as esperanças e que este menino possa despertar em nós sabedoria e bom-senso, principalmentenaqueles que se olham no espelho d'água e não percebem sua própria miopia diante das contradições existente no Brasil.

Sidney Barata de Aguiar. Mestre em História pela UFAM, Secretario de Organização do SINTEAM e diretor da UNEGRO (União de Negros pela Igualdade) Manaus. aguiar_sidney@yahoo.com.br

Fonte: SINTEAM 

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