sábado, 29 de dezembro de 2012

UNEGRO e AMONAM criam Grupo Afro Abi Omim


A União de Negros Pela Igualdade - UNEGRO e Associação do Movimento Orgulho Negro do Amazonas - AMONAM criam o "Grupo de Dança Afro Contemporânea Abi Omim". A ideia surgiu de Cristiane Floriza, Diretora da Unegro, filha de Navê e membro da FUCABEAM (Federação dos Cultos Afro Brasileiros do Estado do Amazonas). 

Apresentação na Universidade Federal do Amazonas - UFAM
Com a realização do Festival Tóy Badé em 2010 na cidade de Manaus, da participação em eventos comemorativos, aberturas de seminários, algumas apresentações em escolas e na convivência com os alunos(as) de escolas públicas, percebemos  como esses jovens precisam reforçar sua auto-estima, valorizar sua raça, aceitar e a respeitar as diferenças religiosas e culturais. Desta experiência, surgiu o interesse de investigar como a dança afro-brasileira aplicada às apresentações nas escolas , em seminários, oficinas, cursos, festivais e outros eventos culturais pode contribuir para a construção destes valores. A partir deste sentido, surge o Grupo de Dança Afro Contemporânea Abi Omim, resgatando e valorizando a identidade Afro brasileira no estado do Amazonas.
O Grupo Abi Omim, vem trazer por meio de danças um pouco da história dos Orixás e Voduns, mostrando para a sociedade a riqueza do culto Afro no Brasil. Para além das apresentações, o Projeto visa trabalhar nas escolas e Universidades, a cultura e a importância da corporeidade para a formação do povo brasileiro e a construção da identidade. 
Os agradecimentos pelo belo início de trabalho em especial a Cristiane Floriza coordenadora do Projeto, Caroline Hermes Coreografa oficial do Grupo, Jéssica Hermes que apesar de morar no México contribuiu bastante com suas pesquisas e criação de material visual, Jorge Felipe Junior -Percussão, Mary Araujo -Vocal, Luiz Fernando -Cabaças, aos jovens dançarinos e dançarinas que se doaram de corpo e alma para esta realização -André Paiva, Edson Leite, Jacyene Marulanda, Nicole Beltrão e Thais Pinheiro. Estendendo os nossos agradecimentos a direção estadual da UNEGRO e AMONAM
"Nós afro brasileiros só queremos o respeito e reconhecimento de nossos valores como filhos de uma grande raça, que há milhares de anos se fez presente em toda a construção de nossa civilização terrena,  agradecemos aos nossos ancestrais e nossa mãe africa por tal resistência" Cristiane Floriza . 

Tendo algumas parcerias já firmadas e com bastante agenda para o ano de 2013, Abi Omim termina o ano com saldo positivo.


Xirê Dança Afro Abi Omim

Apresentação na Universidade Federal do Amazonas - UFAM
 
 Axé!

De Manaus,
Maick Soares
maick_soares@hotmail.com

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Balanço da luta do movimento negro em 2012 e perspectiva para 2013


O ano de 2012 foi um ano positivo para o movimento negro brasileiro, apesar de persistir ações e reações contrárias a pauta antirracista, encerrou ciclos e abriu novos desafios que exigirá toda atenção para que não fiquemos no meio do caminho. Nesse artigo pretendo apontar em linhas gerais os principais destaques da luta do movimento negro em 2012 e apresentar alguns desafios e perspectivas para o próximo ano. 

Heróis e heroínas negras que em 2012 passaram ao orun
Começo discorrer sobre os principais destaques político para luta racial em 2012 pela parte mais difícil e incomum para militância do movimento negro: a perda de valorosos personagens que deixaram importantes legados ao Brasil, ao dedicarem toda a vida na luta para superação do racismo. Com isso, me coloco entre aqueles que consideram que o principal patrimônio do movimento negro são seus quadros e toda a militância, depositários legítimos de quinhentos anos de acúmulos histórico, teórico e político decorrentes da experiência do contato do africano e do negro com a opressão e o racismo no Brasil.
Para o movimento negro o ano corrente foi muito difícil nesse aspecto, tivemos muitas perdas, expresso gratidão e homenageio a memória do Deputado Estadual José Cândido (PT/SP), Prof. Eduardo de Oliveira (CNAB), Wilson Brother (coordenação da UNEGRO/DF e fundador do bloco Pacotão), Sonia Leite (CONEN), Teresa Santos (fundadora do CECAN, principal entidade paulista na década de 70), Hamilton Vieira (jornalista e introdutor da pauta racial na imprensa baiana), Seu Teodoro (mestre do bumba meu boi do Maranhão), Mestre João Pequeno (ícone da capoeira, discípulo do Mestre Pastinha) e Mestre Paulo (Samba Autêntico e Projeto Rua do Samba Paulista), além de muitas Marias e Joãos que incorporaram abnegadamente a luta racial em suas vidas, mas não são conhecidos pelo grande público que compõe o movimento negro brasileiro. Para nós do movimento negro todos são heróis e heroínas imortalizados nas conquistas e nas expectativas de igualdade, paz, justiça e liberdade que o povo brasileiro carrega na mente e no coração. 

Violência do governo Alckmin e o projeto de extermínio da população negra
O ano de 2012 será destacado negativamente pelo crescimento da violência, que sempre tem maior incidência sobre a juventude negra. O registro de 4.306 homicídios de janeiro a novembro de 2012, em São Paulo (Revista Exame on-line) é uma eloquente denúncia da incapacidade de Geraldo Alckmin governar o estado. Estamos diante de um índice de mortalidade violenta comparável a países conflagrados, somente muita irresponsabilidade governamental permite atingir tal patamar de violência. 
Esse quadro remete o movimento negro à defesa do mais elementar dos direitos: a vida. Geraldo Alckmin compõe a intelligentsia que dá continuidade ao projeto da elite escravocrata que em meados do século XIX, advogando a tese que o desenvolvimento do Brasil em padrões europeus estava definitivamente comprometido devido a existência do sangue africano em solo brasileiro, elabora um projeto de nação sem a presença negra, assim eliminariam o principal fator do subdesenvolvimento do país que nascia. 
Para isso, concluiu que era necessário branquear a população brasileira. O extermínio físico compunha uma das formas para dar consequência prática ao projeto de branqueamento. Houve outras ações práticas, como subsídio a imigração em massa de europeus (desembarcaram no Brasil 3,9 milhões de europeus em 40 anos, segundo pesquisa de Cida Bento), incentivo a miscigenação na camada popular, violência sobre os protestos sociais (Canudos e a Revolta da Chibata são os exemplos mais contundente do tratamento do Estado aos movimentos sociais), proibição da entrada e exílio de negros e africanos (ainda existe a marca desse arbítrio na comunidade de descendentes de brasileiros em Benin). 
O projeto de branqueamento e a prática de contenção física da população negra não ficaram localizados em finais do século XIX e nas três primeiras décadas do XX. A década de 90 do século passado foi notabilizada pela implantação do neoliberalismo e pela contundente retórica genocida das elites mundiais. 
Os teóricos do neoliberalismo ainda não abandonaram a perversa convicção que a pobreza é injusta aos homens vocacionados ao sucesso, pois obriga o Estado a desperdiçar recursos humanos e econômicos com alimentação, moradia, saúde e educação, logo emperra a capacidade de desenvolvimento do país. Em seus cálculos grande parcela da população mundial empobrecida é inapta para ser incorporada no desenvolvimento moderno e oferece perigo para estabilidade do sistema, logo é descartável. Cabe aos Estados desenvolvidos, modernos e democráticos oferecer propostas que dê resolução ao problema. 
A UNEGRO, no documento “Extermínio Programado da População Negra”, denunciou a pretensão imperialista contida no “Relatório Kinssiger” e a perversidade da elite brasileira exposta no documento da Escola Superior de Guerra (ESG) conhecido como “Estrutura do Poder Nacional para o Século XXI”. Ambos buscam, em última instância, dar respostas concretas ao maior impasse do neoliberalismo: o que fazer para conter o crescimento das populações que proliferavam nos bolsões de miséria em todo planeta, visto que serão fatores de instabilidade ao status quo. 
Essa compreensão foi a base teórica para a arquitetura política e ideológica que nos anos 90 sustentava abertamente a violência da polícia, esterilização generalizada das mulheres negras, negação de políticas sociais básicas que incidem na longevidade das pessoas (trabalho e renda, saúde, educação, saneamento básico, previdência, etc.) e a existência de grupos de extermínios que dizimavam indiscriminadamente crianças negras, pobres e em situação de rua. Hoje vemos esses fenômenos se atualizando. 
Sobre o recrudescimento da violência na atualidade, especialmente no estado de São Paulo, há quem diga que o motivo do caos é a perda de controle sobre a polícia e sobre o crime organizado. Considero essa uma afirmação insuficiente, pois ela aponta para uma provável acefalia política, transformando o principal responsável em incompetente e não em autor e executor de um projeto político. 
Alckmin é o arquiteto do caos, ele conscientemente dá consequência prática ao sonho liberal descrito logo acima. Está desde o primeiro mandato de Mário Covas no poder, indicou e é patrão dos comandantes das polícias e dos secretários das áreas de segurança, estabeleceu as políticas de segurança pública, carcerária e de direitos humanos no estado. Toda a ação do estado de São Paulo só é possível com a assinatura do seu governador. 
Ao mesmo tempo tudo indica que o governo negocia com o crime organizado, com vista a apresentar para sociedade um gráfico que aponte redução dos dados de rebelião nos presídios, homicídios, assaltos, sequestros, dentre outros dados de criminalidade. Em outras palavras, acredito que negocia com organizações criminosas com objetivo de maquiar a ação do estado no combate a criminalidade apresentando redução dos índices e não desarticulando o crime e oferecendo segurança de fato a população. Não imagino qual a contrapartida que oferece.
Em um país cuja democracia está mais consolidada, com maior presença dos trabalhadores e do povo nos espaços de poder, certamente um governante com esse grau de irresponsabilidade sofreria impeachment. Não vejo solução para conter o aumento da violência em São Paulo enquanto estivermos sendo governados por forças neoliberais e reacionárias, ainda assim, considero necessário apurar a responsabilidade do governador diante da selvageria e do medo que tomou conta do estado. Está aí um grande desafio aos movimentos sociais, especialmente ao movimento negro, desmascarar a política genocida e anti povo do governo do PSDB e construir as bases para sua superação no voto em 2014.

Aprovação das cotas consolida a principal conquista do movimento negro em 2012 
Esse ano encerrou décadas de luta do movimento negro para incorporar a juventude negra nas principais universidades do país, há novos desafios, mas o direito a inclusão foi conquistado. A lei 12.711/2012, que prevê ingresso de negros, índios e pobres nas universidades públicas federais é constitucional segundo os 11 ministros que compõe a mais Alta Corte da República Federativa do Brasil, está aprovada pelo Congresso Nacional, sancionada pela Presidenta da República Dilma Rousseff e regulamentada pelo governo federal, já em pleno vigor. Até 2016 as universidades públicas federais estão obrigadas a reservar 50% das vagas que serão destinadas a incorporação de pobres e negros oriundos de escolas públicas. 
O movimento negro a exemplo dos mais variados segmentos do movimento social não é um espaço monolítico, a luta contra o racismo comporta várias correntes políticas, ideologias, táticas, organizações, etc. No entanto, ao contrário de algumas mal formuladas e superficiais críticas, tem unidade, construiu grandes consensos, dentre eles a defesa das políticas de ações afirmativas e as cotas nas universidades públicas - como principal proposta de ação afirmativa.
Após vários anos de intensos debates, enfrentando ao mesmo tempo e sem trégua setores minoritários - contrários ou vacilantes - da esquerda; todas as correntes de pensamento liberal; partidos políticos, o maior e mais acirrado combatente contra a presença de negros na universidade foi o DEM e depois o PSDB; grande parcela da classe média, principal beneficiária do privilégio; a grande mídia militando, mobilizando, desinformando e pressionando as autoridades a se posicionarem contra as cotas; personalidades respeitadas, tais como Caetano Veloso, Ferreira Gullar, João Ubaldo Ribeiro, Nelson Motta, Aguinaldo Silva, Gerald Thomas, dentre outros; intelectuais de toda ordem, inclusive alguns que estudaram a questão racial no Brasil e se mostraram inimigos da cota para inclusão de negros nas universidades, como Peter Fry, Manolo Florentino, Marcos Chor Maio, Ricardo Ventura, etc.; instituições universitárias como a USP, UNESP e UNICAMP. 
A USP foi fundada para atender o sonho e os objetivos estratégicos da classe dominante paulista, que consistia em formar uma elite altamente capaz e dinâmica para recuperar a hegemonia de São Paulo no país, agora com foco no campo econômico e político. Após as derrotas de 1930 e depois em 1932 pelas armas, sabiam que somente a ciência abriria condições para o estado novamente obter a supremacia perdida. Hoje o objetivo é de preservar o peso de São Paulo no campo econômico e político, por isso a USP resiste com vigor e tem se recusado debater propostas que levem a qualquer processo de democratização do acesso de pobres e principalmente negros em seu interior. 
Apesar da resistência o movimento negro paulista não tem dado trégua, ciente de que São Paulo não pode continuar negando as cotas sob pena de comprometer sua reeleição, Geraldo Alckmin pressionou os reitores das universidades públicas paulistas para apresentar uma proposta de inclusão de negros e pobres na universidade. Ainda que tenha controvérsia na proposta oficialmente apresentada pelo governador, podemos dizer que a elite bandeirante e os dirigentes uspianos não estão felizes. São todos contra as cotas sociais ou raciais, as cotas ferem princípios e objetivos da classe dominante paulista. 
Importantes destaques devem ser registrados nessa longa e árdua batalha, primeiro ficou patente que quando o movimento negro sai unificado em defesa de uma proposta ele mobiliza o Brasil. Por isso, precisamos ser mais ousados na busca das mudanças, sabemos que é possível unificar a população negra para corrigir a subrepresenação de negros nos espaços de poder, é inaceitável que os negros representantes de 50,6% da população brasileira estejam alijados dos espaços que definem o destino do país. 
Segundo, consolida a convicção que as forças contrárias ao racismo - composta de todas as raças, cores e origens nacionais - são majoritárias no país. Há caminhos para construção de uma nação próspera, justa, solidária, com forte unidade popular. 
O povo brasileiro optou em ouvir o movimento negro e os defensores das cotas raciais, apesar da retórica do medo elaborada pelos intelectuais anticotistas e de toda manipulação da grande mídia na hora de informar, provamos que os grandes órgãos de comunicação são poderosos, mas não são infalíveis. 
Terceiro é constatar que forças de esquerda, centro, direita e seus respectivos polos, em várias ocasiões foram vozes uníssonas contra as cotas, uma coincidência possível apenas na questão racial. Sei que é uma afirmação incômoda, mas não podemos ignorar fatos. Temos que verificar com maior profundidade esse fenômeno e tirar lições para os enfrentamentos necessários para vitória total contra o racismo. 
Como Nelson Mandela falou: “ao lado da vitória vem a responsabilidade”, não será diferente para o movimento negro com a conquista das cotas. Segundo cálculos da Folha de São Paulo (23/12/2012), das 224 mil vagas nas universidades públicas federais 42 mil serão reservadas para negros e pobres oriundos das escolas públicas. Isso mudará definitivamente o perfil social e racial das universidades, incidirá nas linhas de pesquisas e extensões, pois novos valores, novas necessidades e inquietações serão munidas de conhecimentos até então inacessível.
O primeiro desafio é exigir condições (tutoria) para que os cotistas permaneçam nos cursos até se formarem, isso significa reforço para elevar o nível dos cotistas, garantir ajuda de custo para materiais didáticos, alimentação, transporte, acesso a cultura, ao lazer e moradia quando for o caso.
Segundo desafio é garantir que os milhares de negros e negras que estão se formando e se formarão em breve sejam incorporados com dignidade no mercado de trabalho e deem contrapartidas sociais aos esforços coletivos que garantiram a abertura das universidades públicas e privadas (através do PROUNI), até então negadas para negros e pobres. Será uma forma de universalizar um bem que pertence a toda população negra e pobre do país, que sempre apoiaram as ações afirmativas. 
Num primeiro momento, parcela desses estudantes provavelmente absorverão os valores elitistas predominantes nas universidades, haverá pressão da casta intelectual, que combateu as cotas, e se encontra encastelada nas academias. Não descarto a possibilidade da maioria dos cotistas serem ganhos pelo pensamento conservador que domina as instituições universitárias, a classe dominante brasileira sempre inverte o jogo, resistem aos avanços, quando perdem se alinham e dominam o processo a seu modo. 
O Brasil está mudando, verificamos a emersão de uma nova classe média, composta por caras e cores que até então não vislumbravam possibilidades de ascensão. Esses jovens virão em busca de oportunidade e sucesso, muitos desconhecendo toda a luta do movimento negro para incorporá-los na educação superior, depositando a razão de sua formação universitária exclusivamente nos méritos individuais. Por isso, torna-se imperativo o movimento negro elaborar formas de se aproximar da juventude universitária e cotista, assim será possível atuar para formarmos consciências críticas capazes de devolver à coletividade as vitórias alcançadas na luta comum. 

Vitória eleitoral do campo progressista
O resultado da eleição para prefeitos e vereadores em 2012 foi positivo para os movimentos sociais, a base aliada do governo Dilma governará a partir de 01 de janeiro do próximo ano 75% dos municípios brasileiros, sem sombra de dúvida essa nova rede de prefeitos e prefeitas é uma sólida base política para o pleito de 2014 - embora a transferência de votos não seja automática. Além das taxas recordes de popularidade, o resultado eleitoral assegura um prognóstico favorável ao campo político inaugurado por Lula, se não ocorrer nenhum fato muito grave e negativo, provavelmente terá mais seis anos para aprofundar as mudanças iniciadas em 2003, as políticas de igualdade racial se beneficiarão da continuidade de Dilma por mais um mandato na Presidência da República. 
A eleição em Salvador merece um destaque especial, não pela vitória do DEM, uma força reacionária que vem definhando em todo país, mas pela forte presença da questão racial no debate político eleitoral. Todos os institutos de pesquisas que analisaram as intenções de votos em Salvador indicavam vitória tranquila de ACM Neto (DEM/BA) no primeiro turno, após a denúncia, veiculada na TV pelos adversários, sobre posição do DEM contra as cotas raciais e contra os quilombolas, houve segundo turno e faltou muito pouco para ser derrotado. Se ACM Neto não convencesse os eleitores de Salvador que era pessoalmente favorável as políticas de igualdade racial, certamente perderia a eleição. 
As chapas com candidatos a prefeitos e vices que disputaram eleição em Salvador tinha presença negra encabeçando ou como vice, de modo que além do debate sobre propostas para superação do racismo e promoção social da população negra soteropolitana, na prática estava em pauta a presença de negros e negras no poder. A Bahia inaugura um ciclo político virtuoso para luta contra o racismo ao exigir negros nas chapas majoritárias, lá não existirá mais o conhecido nós sem nós, a população negra está ciente de sua força, de sua capacidade de escolher representantes comprometidos com o antirracismo. Nenhum político se viabilizará na Bahia ignorando o peso do racismo sobre o negro, ou sem assegurar aos baianos que verdadeiramente está comprometido com esse tema. Ganha o Brasil quando a voz da metade da população ganha mais eco e se torna mais forte.
Outro destaque do processo eleitoral importante para a luta do movimento negro é a vitória de Fernando Haddad na cidade de São Paulo, maior metrópole da América do Sul e quinta maior do mundo. Esse resultado aprofunda a instabilidade do projeto de continuidade tucana no estado de São Paulo, acirra as brigas internas e agrava a irrevogável divisão do PSDB em todo país, além de reiterar a liderança de Lula. Esses fatores são suficientes para o júbilo de todos os movimentos sociais. No entanto tem mais, especialmente ao movimento negro, Haddad anunciou a implantação de uma secretaria municipal de igualdade racial (não foi ainda anunciado o nome do órgão) e anunciou, também, o titular da pasta, um promissor político jovem e negro: Netinho de Paula, vereador reeleito pelo povo paulistano. 
O Brasil registra marcos importante na institucionalidade de órgãos de governo para questão racial, com enfoque na população negra. A experiência inaugural no país com o Conselho de Participação e Desenvolvimento da População Negra em 1984, em São Paulo e a Fundação Cultural Palmares quatro anos após, no âmbito do governo federal, em pleno Centenário da Abolição, superou definitivamente a completa omissão do Estado brasileiro em oferecer políticas públicas voltadas especificamente para população negra e quebra um dos sustentáculos do mito da democracia racial, que consistia na negação do Estado em intervir com políticas públicas num problema que até então não aceitava reconhecer sua existência: o racismo. A SEPPIR do governo Lula reiterou e fortaleceu o compromisso do Estado, elevando o patamar do enfrentamento dos desdobramentos do racismo, além de elaborar paradigmas e atualizar propostas ouvindo a sociedade civil através de conferências e conselhos de políticas públicas. 
Chamo atenção do movimento negro a essa secretaria anunciada por Haddad, pois estabelecerá um novo paradigma na implantação de órgãos responsáveis pela política de igualdade racial. Segundo o prefeito eleito a secretaria fará a transversalidade e executará alguns programas para igualdade racial, para isso terá estrutura humana, técnica e institucional adequada a demanda, além de orçamento digno de uma secretaria executora de políticas públicas. Precisamos acompanhar essa experiência, o Brasil está cansado de órgãos de igualdade racial incapazes de cumprir seus objetivos porque não estão nos objetivos dos prefeitos e governadores. 
Temos incidir nos planos de governos a partir de 2013, quanto maior é a presença de forças progressistas nas prefeituras, mais favorece conquistas objetivas para as reivindicações da sociedade. Há tarefas de grande importância ao avanço da luta do movimento negro decorrente da mudança de titulares dos executivos e legislativos municipais, que reitero nesse artigo, pois já disse imediatamente após a eleição passada no artigo “Tarefa do movimento negro após a eleição.” (http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=4967&id_coluna=15):
Exigir incorporação de negros e negras nos cargos comissionados, em todos os escalões.
Exigir a instituição de organismos de promoção da igualdade racial (secretarias, coordenadorias ou assessorias).
Estimular a criação de frentes parlamentares de igualdade racial principalmente nas Câmaras de Vereadores de todos os municípios a partir de 200 mil habitantes.
Criar conselhos de igualdade racial em todos os municípios, principalmente naqueles a partir de 200 mil habitantes.
Exigir a elaboração de planos de igualdade racial com metas quantitativas e orçamentárias.
Exigir a imediata implantação do Estatuto da Igualdade Racial.
Exigir a inclusão do movimento negro como beneficiário de políticas de igualdade racial.

Barack Obama e Joaquim Barbosa
Barack Obama e Joaquim Barbosa, Presidente dos EUA e Presidente do STF, respectivamente, são personagens relevantes para o movimento negro em 2012, pois representam a capacidade do negro quebrar barreiras, vencer o racismo e ocupar espaços de poder reservados para homens brancos representantes da classe dominante. Em 2012 estiveram no centro de acontecimentos que mobilizaram seus respectivos países.
Barack Obama, primeiro negro a presidir os EUA foi reeleito esse ano em disputa acirrada com o republicano Mitt Romney. Governará durante oito anos a nação mais poderosa do planeta, centro do capitalismo mundial e o mais forte e beligerante dos impérios. Barack Obama não só manterá intactos os interesses como aumentará, onde for possível, a nefasta presença imperialista nos países pobres e em desenvolvimento. Apesar da torcida e da expectativa positiva das populações africanas e negras da diáspora, não podemos ter nenhuma inocência, ser negro não torna Obama melhor ou pior política e ideologicamente em relação aos 43 presidentes anteriores dos EUA. Por isso o movimento negro deve continuar denunciando e combatendo os objetivos do imperialismo estadunidense. 
No entanto, hoje, ele é a melhor alternativa para os EUA e para débil estabilidade da geopolítica internacional, os ultras conservadores republicanos embebidos de um moralismo puritano além de levar os EUA para padrões comparáveis a Idade Média em questões de direitos humanos e civis, pretendiam endurecer com o Irã, dar cabo ao modo deles na crise da Síria, fomentar mais discórdia na questão palestina, enquadrar a China e intervir na América Latina para conter a ascensão das forças de esquerda, a vitória republicana poderia levar o mundo imediatamente a uma guerra sem precedentes. A ascensão dos republicanos no poder seria um recado negativo para a paz no planeta, diante disso, Obama é uma espécie de redução de danos, um mal necessário que a comunidade internacional aguardava ansiosamente.
Joaquim Barbosa, grande estrela dos noticiários da grande mídia hegemônica brasileira em 2012, é um caso que guarda certa complexidade. Chegou ao STF pela iniciativa do Presidente Lula, atendendo reivindicação da luta antirracista e o bom senso do Presidente que indicou um negro pela primeira vez em 120 anos de existência da mais Alta Corte. Obviamente a população negra aplaudiu essa conquista e aplaudiu mais efusivamente quando Joaquim Barbosa assumiu em 22 de novembro de 2012 a Presidência do STF, pois um dos poderes que equilibra a República passou a ser comandado por um negro, fato inimaginável antes de Lula. 
Para população negra, um negro ascender ao poder não é um fato corriqueiro, por isso, eventos como esse é especialmente valorizado. O negro, ao lado dos bancos e dos índios, é construtor de primeira ordem do Brasil, durante 388 anos foi mão de obra quase exclusiva, por isso inexistir negros em espaços como o STF depõe contra a nação, considero uma contundente denuncia da força do racismo no Brasil. 
Aplaudir Joaquim Barbosa por ser o primeiro e único negro a assumir a Presidência do STF não é sinônimo de concordar com todos seus votos, por isso é fácil declarar apoio ao voto que Barbosa deu pela constitucionalidade do casamento homoafetivo, pela inconstitucionalidade da cláusula de barreira aos partidos políticos salvaguardando o pluralismo partidário e o direito do eleitor manter ou não a existência de um partido, voto favorável a cota racial e voto favorável a população indígena no caso das reservas Raposa e Terra do Sol, assim como criticar e denunciar a quebra de jurisprudência e o grave risco a democracia o voto proferido na ação penal 470 - conhecido graças a insistência da mídia como mensalão. 
Durante sete anos os donos das grandes redes de comunicação massacraram a opinião pública com a tese da existência da compra de votos parlamentar para votar nas propostas de interesse do governo e necessidade de condenar o núcleo político do primeiro mandato do Presidente Lula. 
Na verdade, as seis famílias proprietárias de toda a grande mídia nacional se transformaram na principal oposição ao governo federal, o que desejavam era macular os oito anos de governo democrático e popular para que enfraquecidas, as forças que apoiaram Lula e Dilma fossem derrotadas eleitoralmente. Daí a emergência da reforma dos meios de comunicação no Brasil, com vista a quebrar o monopólio e democratizar a difusão de informações. 
Como classe dominante, os donos do poder midiático brasileiro almejam o retorno do neoliberalismo, da Alca, das privatizações, do sucateamento dos direitos trabalhistas, previdenciários e dos serviços públicos, da ausência do Estado no fomento do desenvolvimento (o Estado só para financiá-los). A luta contra o neoliberalismo está longe do fim, por isso temos que enxergar os processos políticos para além da aparência, para além da maquiagem, senão nos perdemos e entregamos as ovelhas aos lobos. 
Considero que Joaquim Barbosa e a maioria dos ministros do STF julgaram os réus da ação penal 470 assediados e pressionados pela grande mídia hegemônica. Barbosa virou herói nacional para os reacionários da Veja, Folha de São Paulo, Globo, Estado de São Paulo todos fiéis colaboradores da ditadura militar, passam quilômetros da ética e da democracia, fecharam questão e militam contra cotas, quilombolas, sem terra, sindicatos, movimentos sociais, ou seja, contra todo avanço que beneficia o povo brasileiro. Engana-se quem pensa que Joaquim Barbosa defende a moralidade pública, nesse processo ele é uma peça da elite conservadora na luta de classes, o alvo é Lula e todas as conquistas do povo brasileiro. 
Uma obra em execução
O próximo ano (2013) fecha uma década da ascensão das forças populares e progressistas à Presidência da República ao lado de Lula, continuado por Dilma, será momento fértil para avaliação, ajuste ou reiteração de rota, pactuação de novas metas e objetivos para continuar dando curso às mudanças almejadas pelo povo e confiada hoje a Presidenta Dilma Rousseff. 
Nessa década o Brasil conquistou a Lei 10.639/03 que institui a obrigatoriedade do ensino da África e da Cultura Afrobrasileira nas escolas, a Secretaria Nacional de Políticas de Igualdade Racial – SEPPIR e uma rede composta por centenas de órgãos governamentais de igualdade racial nos âmbitos dos estados e municípios, cotas raciais nas universidades públicas, Estatuto da Igualdade Racial, pactuou a política de igualdade racial com a sociedade civil em duas conferências nacionais e garantiu a política no plano plurianual (PPA), inaugurou edital para produção cultural com foco no produtor negro, formou milhares de universitários negros pelas cotas e PROUNI, que comporão em muito breve a parcela média da sociedade brasileira. 
Essas conquistas se somam a um universo de direitos obtidos no ordenamento jurídico nacional, as políticas públicas de igualdade racial em curso em todo país, conhecimentos científicos elaborados continuamente e um gigantesco acúmulo decorrente de séculos de existência do movimento negro, nas estruturas de combate ao racismo dos partidos, sindicatos e numa infinidade de instituições. Dito isso, é possível afirmar que Brasil detém o mais complexo sistema de combate ao racismo do mundo, mas, paradoxalmente, o impacto e as mudanças na qualidade de vida da população negra caminham aquém das necessidades da população negra. 
Os negros no Brasil ainda são a parcela populacional que recebem as piores remunerações, ocupam os piores postos de trabalho, superlotam os cárceres, sobrevivem em habitações precárias, dentre outras desvantagens que impactam de maneira mais aguda na população negra, ou seja, o racismo ainda é um elemento fortemente presente na organização do tecido social brasileiro. 
No ano que completa dez anos da nova abordagem do Estado brasileiro no combate ao racismo os governantes e a sociedade civil devem colocar parte de suas energias para aumentar a eficácia e efetividade das políticas e promover negros e negros nos espaços de poder. A III Conferência Nacional de Políticas de Igualdade Racial (CONAPIR) prevista para 2013 tem que buscar resposta que atende essa necessidade de completar a grande obra de construção de justiça e igualdade no Brasil.


Por: UNEGRO.ORG

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

UNEGRO/AM DESEJA BOAS FESTAS


A Direção da União de Negros pela Igualdade - UNEGRO/AM. Deseja boas festas neste final de ano, que no ano que se aproxima tenhamos muitas vitórias e conquistas para o movimento social, em especial ao movimento negro Amazonense e Brasileiro. Consideramos muitas vitórias neste ano de 2012 e queremos avançar muito mais no ano que se aproxima. Que sejamos iluminados em 2013, que possa renascer em nós o espírito da fraternidade e solidariedade. São os nossos votos sinceros. Boas Festas!

Direção Estadual da UNEGRO Amazonas
"Um sorriso negro... Um abraço, Unegro"

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Tarefas do movimento negro após a eleição


O movimento negro brasileiro foi um segmento do movimento social atuante na disputa eleitoral (2012), há tempo entendemos que as eleições é a principal batalha política e o caminho necessário para, no campo institucional, garantir a implantação de políticas públicas que enfrentem com efetividade e eficácia os nefastos desdobramentos do racismo sobre a população negra e incidam na desigualdade entre negros e brancos no campo econômico, social e político.

Não há caminhos para construção da justiça social, tão almejada pelos movimentos sociais e pelo povo, distante da política. A política é nossa mais preciosa e poderosa ferramenta contra as forças racistas e reacionárias que sempre detiveram o poder econômico e político no Brasil.

Temos que compreender a dimensão política e ideológica do racismo, ele avança para muito além dos campos da alteridade e da cultura, as correntes de pensamento antirracismo que focam todas as atenções nesses pontos subestimam ou capciosamente ignoram a luta de classe que o racismo enseja. Ao tempo em que o racismo estabelece conforto, segurança e privilégios para uns, dá suporte as guerras megalomaníacas, como a II Guerra Mundial, promovida a partir de ideários nazistas e o exemplo do genocídio tutsi em Ruanda ocorrido em 1992; justifica pilhagens, saques e superexploração do trabalho barato pelos estados imperialistas e colonialistas; assegura legitimidade para marginalização econômica e social de grandes massas humanas. No Brasil, verificamos que seus desdobramentos têm atendido perfeitamente os interesses da elite dominante e conservadora. A pobreza e a riqueza, aqui tem cor. 

A participação do movimento negro no processo eleitoral (2012) cumpriu um ritual que tem se consolidado Brasil afora, envidamos esforços em torno de candidaturas negras a vereança ou a prefeitura; apresentamos nomes de quadros importantes e qualificados para disputar vagas de vereadores, onde não foi possível uma candidatura orgânica do movimento negro apoiamos candidaturas comprometidas com a plataforma da igualdade racial; compomos coordenações de campanhas majoritárias; contribuímos na construção de programas de governos dando enfoque nas medidas que promovam igualdade social e racial, sempre com vista a ascensão de negras e negros em espaços de poder. 

É importante destacar que o movimento negro, apesar de não ser um campo monolítico, é majoritariamente de esquerda, há consciência que o embate para superação do racismo tem interface na luta de classe, sabemos que em última instância o objetivo do racismo é delimitar o lugar socioeconômico em sociedades multirraciais. Desse modo, para o movimento negro, apesar de reveses pontuais com a ascensão da direita contrária as ações afirmativas em curso, (Aracaju, Salvador e Manaus), o resultado das urnas foi positivo. Verificamos um virtuoso crescimento da representatividade dos partidos de esquerda e de centro esquerda (PT, PSB, PDT, PCdoB e PSOL), que passarão a administrar 1.446 municípios, 26% dos municípios. Somados aos partidos que compõe a base parlamentar do governo, as forças comprometidas com o governo Dilma administrarão 74,82% dos municípios brasileiros. 

Essa acachapante vitória lançou base fundamental para 2014, considerando que em matéria política é pouco prudente antecipar fatos e tendências, hoje é possível afirmar que somente um desastre econômico ou um trágico fato político poderá ameaçar a reeleição de Dilma Rousseff. Estamos diante de um cenário promissor para maior aprofundamento do projeto político que ascendeu ao poder em 2003. No entanto, o ideário liberal, conservador e racista apesar de fragilizado pelo golpe do resultado eleitoral, ainda continua forte, vivo, com densidade social e política, um relaxamento no cumprimento dos programas de governos assumindo no processo eleitoral pode ser cobrado pelo eleitor. 

O racismo é multifacetado, polissêmico e transversal, combatê-lo exige certa plasticidade nas formas de organização e ação, não há uma determinada tática capaz de superá-lo, por isso não é apenas o movimento social o grande palco para o embate organizado contra o racismo, precisamos fortes presenças nos partidos políticos, nas academias, nos governos, nos parlamentos, no judiciário, nas empresas e em outros espaços de poder, representação e sociabilidade. Assim como precisamos garantir espaços e condições para que a crítica se desenvolva, considero a crítica muito importante, especialmente em processos políticos que incidem na vida de milhões de pessoas.

A partir dos resultados eleitorais e da compreensão sobre o racismo, a tarefa do movimento negro na conjuntura imediatamente posta está ligada a incidir sobre os planos políticos dos governos municipais recém-eleitos em todo país. Para isso defendo que o movimento negro se mobilize nesses próximos meses para:

• Exigir incorporação de negros e negras nos cargos comissionados, em todos os escalões.
• Exigir a instituição de organismos de promoção da igualdade racial (secretarias, coordenadorias ou assessorias).
• Estimular a criação de frentes parlamentares de igualdade racial nas Câmaras de Vereadores de todos os municípios a partir de 200 mil habitantes.
• Criar conselhos de igualdade racial em todos os municípios a partir de 200 mil habitantes.
• Exigir a elaboração de planos de igualdade racial com metas quantitativas e orçamentárias.
• Exigir a imediata implantação do Estatuto da Igualdade Racial.
• Incluir o movimento negro como beneficiário de políticas de igualdade racial.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Convite do Projeto Etnico Cultural da E. E. Eng° Artur Soares Amorim


Convidamos você a participar do projeto sobre o dia da Consciência Negra com o tema:
Resistência Negra: Comunidades Quilombolas do Brasil.
Que se Realizará nos dias 22 e 23 de novembro de 2012 no Turno Vespertino, às 13:30h.
Nos dias 26 e 27 de novembro de 2012, no Turno Noturno, às 19:30h.
Local: Escola Estadual Engenheiro Artur Soares Amorim, Rua Cariré nº 60 Cidade Nova 2.

“Porque quando o olhar é de respeito, a história agradece.”
(Maria Victoria Gimenez )

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sobre as cotas e o Negrinho Cocorí

Sou do time que celebra a aprovação da Lei de Cotas que inclui os chamados critérios raciais como um avanço significativo no sentido de minimizar as diferenças entre brancos e negros na sociedade brasileira. Também entendo que estas ações afirmativas por meio de cotas étnico-raciais e cotas sociais são tentativas de democratização de acesso aos jovens menos privilegiados aos corredores dos Institutos Federais de Ensino Superior (IFES).

Não posso deixar de ressaltar que estas conquistas são fruto do esforço de diversas organizações do movimento negro, movimento estudantil, movimentos de mulheres, das representações indígenas, intelectuais, associações de moradores, sindicatos rurais e das cidades, artistas e da parcela progressista do povo brasileiro.

O Projeto de Lei 180/2008, que reza sobre ações e políticas afirmativas nos Institutos Federais de Ensino Superior e que recentemente foi sancionado pela Presidente Dilma Roussef e que se apresenta pela Lei 12.711/2012. Ou seja, as universidades públicas e os institutos federais deverão reservar em cada respectivo concurso seletivo, 50% de suas vagas por curso e turnos para discentes que comprovem terem estudado em bancos escolares de escolas públicas em todo o Ensino Médio. Além disto, estudantes negros, pardos e indígenas também serão comtemplados com uma proporção mínima igual ao número a que esses grupos correspondam no Estado em que a instituição de ensino esteja localizada, seguindo os dados disponíveis pelo último Censo Demográfico do IBGE.  

Infelizmente em diversos posicionamentos contrários e refratários a esta vitória são espalhados pelos meios de comunicação e tentam escamotear a inegável dicotomia racial e a lacuna abissal entre quem detêm o capital e quem vende a sua força de trabalho neste país. 

Para contribuir com esta discussão vou contar uma pequena história, pois faz parte daminha profissão.

Sempre fui um leitor voraz, desde a minha adolescência, por isso encontrei Cocorí em um sebo no centro da cidade de Manaus nas páginas mágicas da obra maior do escritor Joaquín Gutiérrez escrita no ano de 1947. O autor é filho de Puerto Limón e nasceu em 1918.

Cocorí é um negrinho que nos apresenta as paisagens belíssimas da Costa Rica. Este menino vive em um universo mítico que nós brasileiros damos pouca atenção, aliteratura e o folclore dos nossos países vizinhos.

Cocorí sempre faz perguntas filosóficas e profundamente inspiradas no espírito curioso e esperançoso das crianças.Por isto lhes apresento o filho da Mãe Drusila: "Cocorí se agachou para beber na concha das mãos e se deteve espantado ao ver subir lá do fundo um rosto preto como uma jabuticaba, o cabelo parecendo cotões apertados. Os olhos de porcelana de Cocorí tinham à sua frente outro par de olhos que o fitavam assustados. 

Pestanejou, também pestanejaram. Fez uma careta e o negrinho da poça respondeu com outra igual. Deu uma palmada na água e seu retrato se quebrou em mil pedaços. Estava contente e seu riso levantou umas gengivas vermelhas como melancias. Pela primeira vez se tinha atrevido a penetrar entre as árvores milenárias da selva e, cheio de curiosidade e excitação, vivia uma aventura magnífica".

O pequeno Cocorí deve ser absorvido pelos jovens leitores e por aqueles que já perderam as esperanças e que este menino possa despertar em nós sabedoria e bom-senso, principalmentenaqueles que se olham no espelho d'água e não percebem sua própria miopia diante das contradições existente no Brasil.

Sidney Barata de Aguiar. Mestre em História pela UFAM, Secretario de Organização do SINTEAM e diretor da UNEGRO (União de Negros pela Igualdade) Manaus. aguiar_sidney@yahoo.com.br

Fonte: SINTEAM 

domingo, 11 de novembro de 2012

Conselheiros da Sociedade Civil no CNPIR divulgam Carta


CNPIR - Gestão 2010/2012 

Avaliação dos/as Conselheiros/as da Sociedade Civil

Reunidos/as no dia 18 de setembro de 2012, durante a 36ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), os/as conselheiros/as representantes da sociedade civil apontaram a necessidade de apresentar uma avaliação sobre o funcionamento e produção política do CNPIR, gestão 2010/2012, conforme segue:

Consideramos importante para consolidação da democracia em nosso país o fortalecimento dos instrumentos de participação e controle social como as conferências e conselhos de políticas públicas. Está em curso no Brasil a partir de 2003 um processo virtuoso de dialogo entre governo e sociedade civil que os/as conselheiros/as da sociedade civil do CNPIR participam e valorizam. “O CNPIR é órgão de caráter consultivo, integrante da estrutura básica da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), cuja finalidade e competência é propor em âmbito nacional a política de Promoção de Igualdade Racial com ênfase na População Negra e outros segmentos étnicos da população brasileira, com objetivo de combater o racismo, o preconceito e a discriminação racial e de reduzir as desigualdades raciais inclusive nos aspectos econômico, financeiro, social, político e cultural, ampliando o processo de controle social sobre as referidas políticas.” (art. 1º Dec. 4885/2003).

A atual gestão do CNPIR - novembro/2010 a novembro/2012 - iniciou no período de transição do governo Luis Inácio Lula da Silva para Dilma Rousseff e posse da nova Ministra Chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, equipe da SEPPIR e composição de novos/as conselheiros/as. O desafio inicial era se apropriar das ações da gestão anterior do CNPIR e compor as comissões permanentes para dar início aos trabalhos. Na ocasião deparamos com a falta de comunicação sobre os registros (relatórios, atas, avaliações) da gestão anterior, o que comprometeu a continuidade das ações. Consideramos importante instituir uma comissão de transição na mudança de integrantes do CNPIR, para que não haja descontinuidade nas ações em curso.

Os/as integrantes da sociedade civil do CNPIR participaram de maneira ativa, crítica, propositiva e consensual em todas as reuniões ordinárias e extraordinárias convocadas pela SEPPIR, bem como nas comissões permanentes e temporárias, nas variadas atividades e representações solicitadas pela SEPPIR. No entanto, constatamos que a maioria dos/as conselheiros/as governamentais teve presença irregular. Trata-se de uma situação recorrente, que avaliamos ser necessário solicitar a esses, participação efetiva e interativa nas diversas reuniões (conforme artigo 3º item I do Dec. 4.885/2003), sob pena dos ministérios absorverem superficialmente a Política de Igualdade Racial.

Nas reuniões das comissões permanentes planejamos as ações do CNPIR, das quais destacamos como prioritárias: 
a. Encontro Nacional de Conselhos de Igualdade Racial, com objetivo de contribuir com o fortalecimento dos conselhos estaduais e municipais, constituir um fórum nacional de conselhos de igualdade racial e pautar nas agendas dos estados e municípios a criação de conselhos de igualdade racial. 

b. Apresentação e articulação do Plano Nacional de Enfrentamento a Mortalidade da Juventude Negra junto ao Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial – FIPPIR, com objetivo de garantir a efetivação do Plano junto aos estados e municípios. 

c. Efetivação de um banco de dados das comunidades tradicionais contendo informações necessárias para elaboração da política pública vinculada a especificidade das comunidades. Encontro Nacional de Comunidades Ciganas, com objetivo de dar visibilidade às comunidades e pactuar políticas públicas para os/as ciganos/as brasileiros/as. Plano de capacitação profissional para juventude indígena e campanha de combate a violência contra a mulher indígena. 

d. Acompanhar execução orçamentária das Políticas de enfrentamento ao Racismo e Promoção da Igualdade Racial, para isso há necessidade de formação da Comissão Permanente de Acompanhamento das Políticas de Promoção da Igualdade Racial, do Ciclo Orçamentário e GT do Plano Brasil Sem Miséria, para monitorar física e financeiramente o PPA, LOA e PLANAPIR, bem como, acompanhar e monitorar o Plano Brasil Sem Miséria. A oficina solicitada em março de 2012 foi realizada nos dias 27 e 28 de agosto de 2012, pela Secretaria de Planejamento da SEPPIR. Avaliamos que o objetivo de oferecer informações seguras ao Pleno do CNPIR sobre execução orçamentária para promoção da igualdade racial e combate ao racismo não foi atingido por falta de informação da SEPPIR. Recomendamos que no início dos trabalhos do próximo CNPIR seja ofertado aos/as próximos/as conselheiros/as um curso de monitoramento do PPA do governo federal com carga horária adequada para apropriação mínima das informações necessárias para execução de suas atividades. A mesma recomendação vale para os conselhos estaduais e municipais de igualdade racial. 

e. Criação do site do CNPIR; dar acesso à mídia étnica as publicidades do governo federal, por meio de edital e capacitação em igualdade racial aos comunicadores; recomendação à SEPPIR para efetivação das propostas de promoção de igualdade racial na mídia aprovadas na primeira CONFECOM. 

f. Efetivação do eixo 9 da 3ª Conferência Nacional das Mulheres, referente ao enfrentamento do sexismo, racismo e lesbofobia. Recomendamos que seja implementado o plano de ação elaborado pela Comissão Permanente de Mulheres e complementado pela oficina “Ações integradas para mulheres negras”, realizada dias 13 e 14 de setembro de 2012.

Considerando que a SEPPIR, órgão ao qual o CNPIR integra, não conseguiu dar retorno as principais propostas debatidas, aprovadas e indicadas, a sociedade civil, no seu legítimo exercício de controle social, avalia a necessidade imperiosa de uma metodologia participativa e democrática e sugere a mudança do caráter do CNPIR, de conselho consultivo para CONSELHO DELIBERATIVO, objetivando efetivar a participação da sociedade civil na formulação, acompanhamento, monitoramento e avaliação das políticas públicas reparatórias de promoção de igualdade racial e combate ao racismo, para consolidação de uma sociedade equânime e democrática de fato.

Conselheiros/as Representantes da Sociedade Civil Integrantes do CNPIR 

Brasília, 19 de setembro de 2012.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

UNEGRO Amazonas realiza plenária estadual e elege nova diretoria

"As vezes me chamam de negro, pensando que vão me humilhar. Mas o que eles não sabem é que isso me faz lembrar que eu venho daquela raça que lutou pra se libertar que criou o maculelê e acredita no Candomblé. Que tem o sorriso no rosto, a ginga no corpo e o samba no pé" 

Foi nesse ritmo e com muita vontade de lutar por uma sociedade mais justa com espaço para todos,  que a  UNEGRO do Amazonas realizou no ultimo domingo a sua plenária estadual e elegeu sua nova diretoria.


O  evento aconteceu no Sindicato dos Metalúrgicos em Manaus pela manhã e contou com a presença de vários representantes do Movimento Negro Amazonense, estudantes, professores, dirigentes partidários e adeptos de religiões de matrizes africanas.

Na mesa de abertura estiveram presentes:  Zanza - presidenta em exercício da UNEGRO-AM, Lúcia Antony - Veradora PC do B/Manaus, Yan Evanovick - Presidente  estadual da UJS, Elson Melo - Presidente municipal do PCdoB, Júlio Salas - Secretário de Movimentos Sociais do PC do B, Xaymaca - Comissão de organização da UNEGRO Manaus e Elizoneide - Associação dos Afrodescendentes e Indígenas de Manaus (Afroin)

O evento ainda contou com a participação dos Representantes da Federação de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros do Estado do Amazonas – FUCABEAM. Representantes do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Etnico-Racial do Estado do Amazonas - Luiz Costa. Representante da União Nacional por Moradia Popular, o Coordenador do  Projeto MOVA-Brasil Desenvovimento & Cidadania - Marcos Moura, estudantes de Serviço Social da Faculdade Metropolitana de Manaus (FAMETRO), estudantes do Ensino Médio da Escola de Tempo Integral com o Projeto de Iniciação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas: Vivências da Cultura Africana e Afro-Brasileira na ETI Irmã Gabrielle Cogels

A discussão foi em torno das eleições deste ano, criação da UNEGRO/Manaus, estatuto e regimento interno, bem como a eleição do time que vai tocar os trabalhos na direção estadual da UNEGRO.

Diretoria Estadual:

Presidenta: Elizangela Almeida - Zanza
Vice-Presidente: Bosco Souza
Secretário Geral: Luiz Costa
Tesoureiro: Edson Brelaz
Secretário de Comunicação: Maick Soares
Secretária de Gênero: Floriza Hermes
Secretária de Saúde da População Negra: Mary Jane Coelho
Secretário de Trabalho e Renda: Emanuel Medeiros (Negão)
Secretária de Juventude: Júlia Vargas
Secretário de Educação: Marlon Seabra
Secretário de Cultura: Marcos Moura
Coordenação da Comissão LGBT: Frank 
Coordenação da Comissão das Comunidades Tradicionais: Pai Jean
Conselho Deliberativo: Formado por representantes da Região Metropolitana e calhas dos rios. (em construção)


E para encerrar com "chave de ouro", não poderia faltar uma boa Capoeira e um samba de roda com o Grupo Terreiro do Brasil.


Axé para todos e vamos a luta!
Maick Soares - Secretário de Comunicação